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Foi numa quarta feira, há 16 anos

Pai, menti.

Disse que te escreveria uma carta todos os anos, neste dia. E fi-lo, pelo menos a grande maioria deles. Mas os últimos, confesso, não ta escrevi. Não esqueci, também, nem nunca deixei passar este dia sem te lembrar. Mas não te escrevia, como antes. Talvez me sentisse segura, já, sem ti. Não segura, segura, mas segura de mim.


Quando tu foste, levaste contigo a minha segurança toda, sabes?

Percebi isso recentemente na vida, e doeu.


Percebi porque eu continuava a querer ser tua semelhante e, ao mesmo tempo, esforçava-me por renegar aquilo em que realmente somos parecidos.


Doeu, porque senti que gastei anos a tentar chegar a um patamar que parecia que eu nunca conseguia atingir.

Porque era mesmo inatingível. Porque tu és inatingível, e está tudo bem. Nunca mais te vou conseguir alcançar, e isso dói-me. Todos os dias. Todos.

Há 16 anos que é sabido universalmente que tu és o centro da minha história. Falo de ti todos os dias, todos. É inegável.


Mas talvez tenha ressentido um bocadinho esta minha busca incessante por qualquer coisa que me ligasse a ti, que resolvi não te escrever tanto. Desculpa.


Mas foi bom. Compreendi que nada me afasta de ti, meio-quilo. Na verdade, mesmo sem procurar (ainda mais sem procurar), toda eu sou uma mantinha de retalhos tua. E está tudo bem.

Mas também cresci para encontrar tantos pedacinhos de tecido da mãe, sabes? Tantos quantos tenho teus. E muitos deles contam histórias que eu sempre quis saber, lembras-te?


Tenho aprendido muitas coisas, que não serão nem metade daquelas que tu sabes que a vida tem para mim.

Não sei se tens esse poder, mas se tiveres, espero que continues a colocar na minha vida todas as tuas histórias. Para eu aprender mais sobre ti, sobre a tua viagem.

Também foi a tua primeira vez na terra e escolheste - sim! -, trazer-nos nessa viagem e ser tuas passageiras. E que bela viagem foi.


A vida tem sido como aquela viagem que fizemos a Marrocos, dentro do Fiat Panda 4x4, com a cadela e a geleira, e uma mala cheia de sonhos e vontade: maravilhosa e surpreendente. Com quebras pelo caminho, algumas idas ao mecânico, temperaturas agrestes... mas acima de tudo, muita vontade e muito amor.

Como naquela viagem.

A viagem mais bonita.


Como a vida que me ensinaste a viver.

A viagem mais bonita.


E a minha é uma homenagem à tua.

Como eu sou a ti.


Obrigada, pai.

Obrigada.


Pensarei em ti todos os dias.

Da tua filha,


Cláudia.

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